Sagrada Cozinha dos orixás

O que come cada Orixá e por quê?
Para um melhor entendimento sobre o que é oferecido a cada orixá, antes precisamos conhecer um pouco melhor das sua principais características. Assim, a sacralização dos alimentos, bem como de tudo que lhes é oferecido, torna-se realmente uma fonte de axé. No meu ver, para que aconteça essa sacralização, antes porém, é necessário que haja, entre o homem e o orixá, uma sintonia e uma afinidade que, acredito, somente ser possível através do amor, carinho, respeito e, principalmente, do fundamento que lhe é passado pelo seu Babalorixá.
Marcelinhu D'Xangô

EXÚ - O COMUNICADOR

Pade de dendê
Exu é a figura mais controvertida do panteão africano, o mais humano dos orixás, o senhor do principio e da transformação. Deus da terra e do fogo. Ele é a ordem, aquele que se multiplica e se transforma na unidade elementar da existência humana. Todos que tem uma vida próspera no Candomblé sabem cultuar Exu. Nenhum sacerdote da religião pode negar que quem traz dinheiro para o terreiro é Exu, e que uma farofa cobrindo a rua (sua moradia) opera os maiores milagres emergênciais. 

Esta farofa tem como constituinte na sua preparação o azeite de dendê, esta é a principal comida do orixá Exu, é uma representação do alimento diário. Sua preparação se dá através da mistura de farinha de mandioca grossa com azeite de dendê, em quantidades proporcionais. Exú come de tudo, contando que esteja regado com muito azeite-de-dendê e ataré, pimenta. Exu recebe ainda, pratos á base de milho vermelho torrado, feijão preto torrado no dendê e farofas de vários tipos: farofa de mel, de água, de cachaça, de vinho, de champanhe, de cerveja, embora se saiba que, como “dono do azeite”, a farofa de azeite é sua iguaria preferida.
OGUM - O GUERREIRO

Inhame

A maior de todas as guerras, que se trava desde os primórdios da humanidade, é a luta pela sobrevivência. Ogum consagrou-se um grande guerreiro porque sempre conduziu a humanidade na luta pelo sustento, pelo pão e pelo progresso. 

Desbravador e corajoso não tardou em ser coroado rei. Conquistou vários territórios e foi saudado com fervor em toda África negra. Ogum é guerreiro que, além de caminhar incansavelmente sobre a terra, arranca dela seu sustento e divide com outros orixás como Oxaguiã, o gosto pelo inhame, com a diferença que Ogum prefere assado, ou seja, a comida que o serve é menos elaborada e por isso vem de encontro as suas características. Aquele que está frente a grandes batalhas pode recorrer a Ogum, ofertando-lhe o pão de cada dia (inhame), assado em brasa e deixado em uma longa e plana estrada, que é muito bem aceito por este orixá. 
A ele se oferece inhame assado, milho torrado e aluá ( bebida fermentada de rapadura de gengibre),inhame assado e espetado com taliscas de Mariwo, como também come o inhame simplesmente cortado ao meio, passado mel e dendê . Recebe feijão preto em forma de feijoada, milho vermelho torrado e enfeitado com coco . Acredita-se que os Orixás guerreiros comem também cru ou torrado pois eles não tem tempo de esperar...

OXÓSSI

O PROVEDOR 

Axoxo 

Oxóssi é o orixá da caça, senhor das florestas e de todos os seres que a habitam, orixá da fartura e da riqueza, protetor dos agricultores, símbolo de prosperidade, não há adepto desta religião que não o alimente, ofertando-lhe o axoxo (milho cozido com fatias de coco fresco) aos pés de uma árvore, em busca de sucesso econômico. Aprecia frutas de vários tipos. Tem mel como tabú.

OBALUAYE – ORIXA DAS DOENÇAS E DA SAUDE 

Deburu

molu é a terra. Essa afirmação resume perfeitamente o perfil desse orixá, o mais temido entre os deuses do Candomblé, o orixá da varíola e de todas as doenças contagiosas. É preciso esclarecer que Omolu está ligado ao interior da terra e isso denota uma intima relação com o fogo, já que esse elemento como comprova os vulcões em erupção, domina as camadas mais profundas do planeta. O indivíduo enfermo recorre sempre a este orixá, ofertando-lhe um cesto de pipocas (que representam feridas espalhadas pelo seu corpo) com lascas de coco fresco em contato direto com a terra. Também gosta de milho torrado, feijão preto, Mossoró(massa de feijão fradinho temperado com camarão seco e frita) atafum (bola de feijão preto temperado).

OSSAIM - O DONO DAS FOLHAS 

Milho torrado com fumo 

Kó sí ewé, kò sì orixá, ou seja, (sem folha não há orixá). Ossain conhece os segredos e as palavras que despertam o poder das folhas, é conhecido como um grande feiticeiro. Quem busca cura em tratamentos medicinais não deve esquecer-se desse orixá, deixando no centro de uma mata fechada uma grande cumbuca de barro com milho vermelho, lascas de fumo, camarões secos, regados com o perfume e aroma do mel e do dendê. Recebe,ainda, o efó ( refogado de vários tipos de folha, como a taioba, a mostarda e a folha de quiabo).

OXUMARÉ- O ORIXÁ DO MOVIMENTO 


Banana da terraQuando se visualiza o arco-íris, é possível sentir a presença de Oxummaré o orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos. Se um dia Oxumaré perder suas forças o mundo acabará, porque o universo é dinâmico e a terra também se encontra em constante movimento. Não é possível imaginar o planeta terra sem movimentos, translação e rotação; Oxumaré é o eixo do mundo, os adeptos que almejam o equilíbrio se curvam a esse orixá ofertando-lhe uma rica farofa de dendê com ovos cozidos. Gosta de massa de batata-doce e da banana-da-terra frita no dendê.
NANà - A ANCIà


Efó
Nanã é a deusa dos mistérios, sua origem é simultânea à criação do mundo, pois quando Odudua (Deus das águas salgadas) separou a água parada que já existia, libertou do “saco da criação" a terra, no ponto de contato desses dois elementos formou-se a lama nos pântanos, local onde se encontram os maiores segredos de Nanã. Senhora de muitas conchas Nanã sintetiza a morte. As grandes mulheres do Candomblé se reverenciam a esse orixá por toda trajetória de suas vidas, fazendo com que o tempo de sua existência se estenda. Aos sábados no cair da noite sempre iam ao mangue oferecer uma comida chamada Andaré. Trata-se de um vatapá de feijão fradinho, sem adição de dendê. O ritual não aparece no momento de oferecer a comida, mas no momento de prepará-la, pois aí se sente sua presença. Aprecia também o acaçá dissolvido em água de mel, o omitorô(água do cozimento da canjica com mel), Efô é uma comida ritual e da culinária baiana , pode ser feita com folha de mostarda ou da folha chamada língua de vaca . 

OXUM- A DONA DA FECUNDIDADE E DAS ÁGUAS



Omolocun
Generosa e digna, Oxum é a rainha de todos os rios. Vaidosa, é a mais importante entre as mulheres da cidade, é a dona da fecundidade das mulheres, a dona do grande poder feminino. As mulheres que querem engravidar se recordam de Oxum, presenteando-a com uma bacia de louça contendo Omolocum (feijão fradinho, dendê, camarão seco, cebola e ovos inteiros cozidos). Quando seu pedido é atendido levam até uma nascente de água doce bijuterias como forma de agradecimento. Oxum adora ser lembrada. Come também o ipeté, comida a base de inhame temperada com camarão e dendê. Ado - é uma comida ritual feita de milho vermelho torrado e moído em moinho e temperado com azeite de dendê e mel.
LOGUNEDÉ – DONO DA RIQUEZA E BELEZA

É o orixá da riqueza e da fartura, filho de Oxum e de Oxóssi, Deus da terra e da água. É sem dúvida, um dos mais belos orixás do Candomblé já que a beleza é uma das principais características de seus pais. O caçador habilidoso e príncipe soberbo, Logunedé reúne os domínios de Oxóssi e Oxum e quase tudo que se sabe a seu respeito gira em torno de sua paternidade. Como sua principal característica é a beleza, as pessoas recorrem a ele quando querem ser notadas, pois a alquimia de oferecer-lhe milho cozido, com feijão fradinho acompanhado de um peixe assado em folha de bananeira transfere a este indivíduo o encanto deste orixá.
IANSÃ - OIÁ - A MULHER GUERREIRA


AkarajeO maior e mais importante rio da Nigéria chama-se Niger, é importante e atravessa todo país. Rasgado espalha-se pelas principais cidades através de seus afluentes e por esse motivo tornou-se conhecido pelo nome de Odò Oya, já que na língua iorubá ya, significa rasgar, espalhar. Esse rio riu e é a morada da mulher mais poderosa da África negra, a mãe dos nove céus, dos nove filhos, do rio de nove braços, Iansã. Embora seja saudada como a deusa do rio Niger, esta relacionada ao elemento fogo. Na realidade, indica a união de elementos contraditórios, pois nasce da água e do fogo, da tempestade, do raio que corta o céu no meio da chuva, é a filha do fogo. 
A tempestade é o poder manifesto de Iansã, rainha dos raios, das ventanias, do tempo que fecha sem chover. Iansã é lembrada como a senhora dos nove partos. O número nove é parte integrante de seu nome e aparece em várias passagens de sua história. Mas com nove acarajés (sua comida) pode-se conseguir vencer grandes batalhas e atingir as maiores dadivas junto a Iansã. Esta deusa também se alimenta de farofa de mandioca refogada no dendê, camarão defumado e cebola ralada tudo levado ao fogo com uma pitada de sal.
OBÁ - O ORIXÁ DO CIÚME



Abará

Uma das mulheres de Xangô, recebe abará - feijão fradinho descascado e moído com cebola, camarão e dendê, envolvido em folha de bananeira e cozido no vapor. 

EWÁ - DEUSA DA BELEZA



Batata doceGosta de banana-da-terra e batata-doce. Em algumas casas recebe feijão fradinho com coco e dendê. 

IEMANJÁ- A RAINHA DO MAR 


Eboya

A grande rainha de todas as água do mundo sejam elas doces ou salgadas, dos rios ou dos mares, a deusa sincretizada no Brasil como protetora dos navegantes e pescadores. Diferente do que todos pensam, Yemanja é cultuada na África em rio de água doce, que leva seu nome, somente no Brasil ela foi unificada as águas salgadas, as grandes sacerdotisas ressaltam que o correto lugar para o culto desse orixá é o encontro de águas, salgadas e doces. Na Bahia os devotos de Yemanja oferecem a ela Eboya, uma refeição a base de canjica molho de camarão defumado, cebola ralada e azeite doce. Fazendo seus pedidos de proteção e boa pesca 
XANGÔ - ORIXÁ DA JUSTIÇA E DO PODER 



Amalá
Nem seria preciso falar do poder de Xangô, porque o poder é sua síntese. Xangô nasce do poder e morre em nome do poder. Rei absoluto, forte e imbatível. O prazer desse orixá é o poder, ele manda nos poderosos, manda em seu reino e em reinos vizinhos. Xangô é rei entre todos os reis, não existe uma hierarquia entre os orixás, nenhum possui mais energia que o outro, apenas Oxalá, que representa o patriarca da religião e é o orixá mais velho , goza certa. O amalá é a comida mais elaborada do Candomblé. Representa dignidade e o poder de Xangô é a própria organização do reino de Oió (cidade da África). Este preparo compõe-se de quiabo, dendê, pó de camarão seco, cebola e gengibre, todos os ingredientes levados ao fogo bem apurados, posteriormente servido em gamela (forma de madeira), os pedidos de justiça ao evocar Xangô são inúmeros. Gosta de mesa farta. 
OXALÁ – O CRIADOR 



Na África, todos os orixás relacionados a criação são designados pelos nomes de Orixalá, ou seja, (o grande orixá), que nas terras de Igbó e Ifé é cultuado como Obatalá, o rei do pano branco. Eram cerca de 154 os orixás, mas no Brasil, a quantidade se reduz significativamente, sendo que dois orixás Olúfón, rei de Ifon (Oxalufã), o bom comedor de inhame e rei de Egigbó (Oxaguiã), tornam-se suas expressões mais conhecidas. Oxalá é o Deus que cria; aquele que veste branco, o sábio, que prega a paz. Na turbulenta movimentação das grandes cidades os òmo orixá (filho do deus), encontram a paz, a serenidade e o equilíbrio para o recomeço de uma nova jornada alimentando-o com uma grande bacia de canjica branca cozida – Ebô. Come também inhame, arroz branco e acaçá. Não come dendê e sal.

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